Uberlândia a Monte Carmelo, um bate-e-volta de quase 300 Km de bike

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Recentemente nos deparamos com um relato no facebook a respeito do “Desafio Token” – Uberlândia > Monte Carmelo > Uberlândia (via Gameleira) de Bike.

Mediante o tamanho do desafio e leitura do relato, entramos em contato com Márcio Antônio Dorázio, autor do texto e solicitamos autorização para publicar o relato aqui no BioCicleta. Ele prontamente atendeu nosso pedido, publicamos na integra o relato da viagem:

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A ideia nasceu pedalando com o amigo Gabriel Maia na serra da Canastra, quando ele ficou sabendo da turma de Uberlândia que fez inscrição pro Caminhos de (Guimarães) Rosa, http://caminhosderosa.com.br, que será em Agosto deste ano em três Marias MG, e que será uma ultra maratona de 300 km de percurso, 4 mil metros de altimetria e prazo máximo de 30 horas para concluir. Aí ele teve essa ótima ideia de criar o desafio Token para que pudéssemos fazer um teste com algo próximo ao que enfrentaremos lá no caminho de rosas, e também abriu pra quem mais quisesse participar, inclusive fazendo percurso só de ida.

A proposta era a gente ir e voltar, de Uberlândia para Monte Carmelo (por terra), via Gameleira, o que daria 300 km, com elevação de uns 3.700 metros, sem prazo fixo para concluir mas sem parar, apenas um banho, jantar e volta!

Porém, a ida demorou mais que o previsto, foi mais sofrida que o imaginávamos, e o horário de saída de Monte Carmelo pra voltar, foi bem além do que esperávamos (sem contar que o frio foi absurdo, intenso mesmo!) e aí resolvemos voltar por Romaria.

desafio token 01

Pela primeira vez consegui dormir um pouco antes de um pedal que começa cedinho. Fui dormir às 23 e pouco e quando deu 3:30 a.m. o batalhão de despertadores começaram a cornetar. Desliguei todos e fui vestir o “uniforme”.

Pão com nutella, banana e castanhas. Protetor solar na “lataria” e camelbak lotado nas costas. O relógio marcou 4:30 e lá fui eu para o posto, local onde todos ficaram de encontrar para partir às 5 horas em ponto.

Cheguei lá e o Julio, amigo meu, tinha esquecido a luva dele. O posto é aqui do lado de casa, corri e busquei uma pra ele. Deu tempo! Ufa!
Galera reunida, abraço daqui, foto dali, relógio marcando 5:10 /5:15 e partimos rumo tenda dos morenos pra chegar no acesso pra gameleira.

Subindo a av. Segismundo, acho que acordamos a avenida inteira com as risadas e a empolgação toda transbordando. A temperatura estava bem gostosa, friozinho light e quando passamos o anel viário, rumo à tenda, fizemos uma descida cinematográfica até a represa, estava amanhecendo, uma neblina surreal de linda e aqueles 29 ciclistas ali conectados, surfando em suas magrinhas rumo à essa aventura memorável que mais uma vez me inspira a registrar tudo isso. Pedalar é minha paixão, não tem como deixar em branco.

Chegamos lá em cima onde se pula a rodovia de Araguari pra Indianópolis (acesso pra Cachoeira das Irmãs), e 3 do grupo (que iam fazer o percurso só de ida), tinham ficado pra trás. Bruna, Daniel e Carol (que teve um incidente poucos dias antes, machucando a ponto de perder dente, e estava lá, na raça, fazendo o que mais gosta! Essa é admirada por muitos de nós e tem o respeito e o carinho de muitos ciclistas).

Comandante Gabriel disse que podíamos seguir pois eles tinham o percurso no GPS e tocamos rumo Gameleira (que na verdade chama Dolearina, e é um distrito de Estrela do Sul), onde paramos pro almoço. Quilo feito, seguimos em frente!
Dali em diante, a gente fica sem saber pra onde olha, um cenário que te provoca a parar e contemplar! Simplesmente maravilhoso!

desafio token 02

E aí começou a brincadeira. Sobe, desce, sobe, desce…
Haja pernas para subir aqueles morros!
Alguns trechos realmente lembram alguma coisa da Canastra, que pra mim é um dos lugares mais mágicos e incríveis que já conheci.
A amiga Brenda deu uma machucadinha, que pra uma mulher da potência dela, nada mais foi que um arranhão. Mulherada arretada e raçuda!
Císia, que estava no comando junto com Gabriel, quebrou a gancheira e ficamos de “castigo” um bom tempo numa sombra boa, apreciando a paisagem e rindo aos montes das histórias que rolavam soltas ali.
Por sorte, tinham ferramenta e uma gancheira que serviu pra acudir. Deram um jeito e uma meia hora depois estávamos “torcendo o cabo” de novo.

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Chegada sofrida em Monte Carmelo, sol já indo dormir e chegando na casa de apoio, preenchemos o local todo, lotando os banheiros e cada canto da casa com bike, bikers, risos, sorrisos, e aquela correria pra tomar banho e ir comer macarrão pros 17 birutas que tinham que se preparar pro retorno.

Galera que não ia retornar relaxou e foi curtir churrasquinho. Císia e Gabriel brilharam no apoio, na organização e na simpatia. Banho tomado, macarrão delícia já sendo digerido, e… “Bora pra Uberlândia!”.

Mas aí, como já estava bem mais tarde do que o previsto e rolou um cansaço significativo, a temperatura só caindo, já se ouvia rumores de desistência pra volta, até que decidiram voltar por Romaria, mais plano e mais rápido, do que voltar por Gameleira, que, apesar de ser a proposta, seria falta de bom senso com aquele cansaço todo, horário avançado e a previsão de um frio considerável, que, nossa! Se tivéssemos arriscado e insistido, não teríamos chegado na metade (da volta).

desafio token 03

Ok! Nova rota pra volta definida. Foto no escuro. Abraço pros que ficaram. E lá fomos nós! 20 km de asfalto até Romaria, e de lá mergulhamos naquela floresta de eucalipto, com aquele retão sendo “mastigado” pelas rodas das bikes. E a temperatura só caindo, caindo…

Confesso que saí bem cansado de Monte Carmelo até Romaria, mas de Romaria até o asfalto que chega em Araguari, no trecho da floresta de eucalipto, me deu uma energia totalmente inesperada! Não sei o que houve, acho que o frio energizou minhas pernas e eu pedalei como nunca!

Apesar do céu lindo e estrelado, ali naquela floresta, de madrugada, e com temperatura despencando pra baixo dos 10 graus, o cenário era meio fantasmagórico, e eu fiquei com vontade de uivar, só pra passar um medinho na turma (risos), mas percebi que além de frio, o clima estava meio tenso, onde até o nosso gigante amigo Tulio estava quietinho. Sem falar que o Cabelo (Francisco Júnior) confessou que estava com medo (risos). Aí fomos no silêncio mesmo. Apesar que teve um trecho que cruzamos por dentro da floresta que, wow! Foi de arrepiar!

Paradinha, sono, frio, pneu furado do Sinomar… Rochester agilizou o pit stop, e logo já estávamos no rítmo frenético novamente.

Por sorte nossa, meu querido e ilustre amigo Riberto, de Araguari, protagonista dos melhores pedais da região, e regente do http://www.mtbaraguari.com.br, nos guiou pelos labirintos daquela floresta de eucalipto, até chegarmos em Araguari. O danado conhece aquilo tudo! * Riberto, você é o cara! Pode ter certeza que você conquistou todos ali, como sempre! Valeu demais!

Quando pegamos um trechinho de asfalto, chegando em Araguari, pela primeira vez eu dei uma (quase) cochilada pedalando. Eu olhava pro pneu, e o desenho dos cravos em movimento iam me deixando tonto. Quando eu dava aquela piscadona, ou pescadona (risos), sacudia a cabeça e prumava o rumo, naquele frio, nossa, já estava anestesiando tudo!

desafio token 05

Faltando uns 8 km pra chegar em Araguari, já passavam das 4 horas da madrugada, fechando 24 horas de pedal, mais de 10 horas pedalando, um FRIIIIIIIOOOO de balançar cada osso do corpo, beter queixo, congelar os dedos dentro da luva fechada e deixar a gente meio desnorteado (disseram que marcava 7 graus, mas a sensação térmica era de bem menos). Fomos pra um local ao lado da estrada e fizemos uma fogueira pra aguardar o Gabriel, que saiu lá de Monte Carmelo pra trazer um pouco de alimento (e alento) pra gente.
Mas aí a fogueira não estava vingando, começou a demorar, e a gente congelando ali, foi dando uma agonia em todos e acabamos tocando pro posto que tem na saída de Araguari pra Uberlândia.
* Detalhe, 5 minutos depois que começamos a pedalar (feito zumbis enlouquecidos – risos), o Gabriel passa pela gente na estrada! Ah que ironia! Mas já estávamos todos esparramados pedalando e aí avisaram pra ele encontrar a gente no posto.

250 km percorridos… 50 km a menos.
2.700 de altimeria… 1.000 a menos.
24 horas de pedal… era pra ser até 30 horas.

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Até tocaríamos mais 30 km pra chegar em Uberlândia. Apesar do cansaço, tenho certeza que todos ali tocariam mais 30 km ou mais pra acabar de chegar (como tiveram 5 que foram), mas o frio estava desconcertante e mesmo com camadas de roupa, capas, etc, ficou impraticável para 12 de nós.
Aí o Tulio mandou mensagem pro Rogério e pro Lucas (mais 2 parceiros do nosso Grupo Tarja Preta Longa Distância) e pediu resgate!
Esses dois anjos, que muito fizeram falta nessa aventura, deixaram suas camas quentinhas às 4 horas da madrugada, arrumaram um caminhãozinho, um carro e foram nos buscar no posto (é por essas e outras que eu amo esse meu grupo). Rogério e Lucas, obrigadíssimo!

Ressaltando, que os “bruxões extraterrestres” (risos): Sinomar, Francisco Junior, Nemezio, Dyêgo e Alex, simplesmente pegaram suas “vassouras mágicas” e voaram pedalando até suas casas. #TudoTarjaPreta (!!!) 

Agora, teve um ciclista entre nós, que eu até esfreguei minha mão nas costas dele, pra ver se me contamino desse poder que ele tem o Sr. Wellington Freitas, que veio pedalando de Ituiutaba até Uberlândia, fez todo esse percurso com a gente, disse que ia só tomar um banho e tirar um cochilo para se recompor, e voltar pra Ituiutaba pedalando! Sério! Ele é diferenciado!
Sem falar na simpatia e na alegria dele. A cada quilômetro, parecia o primeiro dele. Ele brincava com todo mundo, tirava foto e pedalava mais que todos ali. Wellington, você é incrível amigo! Parabéns!

Bem, mesmo que o retorno tenha sido alterado e que a gente não tenha feito de acordo com a proposta inicial, nós fomos todos guerreiros, foi uma aventura e tanto! Inesquecível!

O carinho e o cuidado que temos uns com os outros é fraternal. Coisa de família mesmo. Como se fôssemos todos irmãos, primos…

Isso sempre me marca e me impressiona da forma mais encantadora possível.

Amo muito tudo isso, e todos vocês!

Um grande abraço pra todos e muito obrigado por tudo!

Espero que não demore pra próxima aventura acontecer!” 

desafio token 04

 Márcio Dorázio

Ciclista de Road e MTB

Autor do texto.

"Beleza é bom, mas conteúdo é fundamental"