Ibitipoca: Estação Andorinhas

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Houve um tempo em que meu fim de semana começava na quarta. Quando passava pela secretaria do colégio, não era sem uma ponta de ironia que eu dizia “até segunda, meninas”. Nessa época eu dividia com um amigo e uma amiga um chalé em Conceição de Ibitipoca, cidade adjacente ao Parque Estadual que leva o mesmo nome.

Aventuras e Desventuras em Ibitipoca

Aventuras e Desventuras em Ibitipoca
Primeira Parada: Estação Andorinhas
Houve um tempo em que meu fim de semana começava na quarta. Quando passava pela secretaria do colégio, não era sem uma ponta de ironia que eu dizia “até segunda, meninas”. Nessa época eu dividia com um amigo e uma amiga um chalé em Conceição de Ibitipoca, cidade adjacente ao Parque Estadual que leva o mesmo nome.
Às quintas-feiras, eu acordava às cinco e seguia de bike para a rodoviária, onde embarcava no ônibus das seis para Lima Duarte. De lá subia os 27 km de serra até Conceição. No domingo, voltava pedalando, perfazendo um total de 115 km (praticamente todo pelo asfalto) em mais ou menos 6 horas.
No dia em que decidi também subir de bike, descobri ao acordar o pneu da frente furado. Fiz os reparos e… cadê a bomba? Desci, empurrando, até um posto de gasolina; lá descobri que o mesmo havia acontecido com o pneu traseiro. Fui à loja onde recentemente trocara os aros (a única explicação para os pneus furados e onde provavelmente teria deixado a bomba) e… manutenção pra cá, manutenção pra lá… “Nossa! Tá tarde! Melhor não me arriscar numa estrada movimentada.” Segui para rodoviária.
Um passageiro, ao me ver equipada, perguntou se eu ia pra Ibitipoca; disse que seu nome era Ricardo e era proprietário de uma pousada – Estação Andorinhas –, no km 17, que se eu precisasse de alguma coisa era só passar por lá, e Ana, sua secretária, me daria pronto apoio. Em Lima Duarte, quando nos despedimos ele me convidou pra passar pra conhecer o lugar, no final de semana. Agradeci e segui para o vilarejo, onde passei o resto da tarde deitada na rede, vendo o pôr-do-sol.
Na manhã seguinte, percorri a pé os 3 km que separam Conceição do Parque, onde havia no máximo umas 10 pessoas (era dia de semana e fora de temporada). O circuito de trilhas tem em média 17 km e exige um certo preparo para completá-lo antes do pôr-do-sol (o Parque fecha às 18h). Embora isso não fosse problema pra mim, fiz uma escolha errada naquele dia.
A Cachoeira da Pedra Quadrada leva esse nome em razão de um gigantesco cubo de pedra que inexplicavelmente a natureza colocou ali. Para visitá-la de perto é preciso usar uma trilha alternativa – na verdade esta pedra já fica fora do circuito oficial; portanto, visitá-la, é um risco pessoal. Desci pela trilha e fui até a pedra. De lá, resolvi seguir em frente, em vez de retornar, e sem perceber, estava andando fora dos limites do parque. Como já havia caminhado muito, o percurso mais curto para voltar à trilha oficial era pra cima. Assim, tive que escalar, de botas de trekking, um enorme paredão. Pensei em nada e em tanta coisa ao mesmo tempo. O medo de cair e a necessidade absoluta de não fazer nada errado pra que isso não acontecesse provocaram uma descarga de adrenalina no meu corpo. Acho que essa foi a coisa mais radical que já fiz, principalmente porque não havia nenhum equipamento de segurança e porque eu estava sozinha. Depois dessa, achei melhor voltar pra casa.
Na manhã seguinte, desci de bike logo cedo, pra conhecer a Estação Andorinhas: um lugar aconchegante, com cachoeiras e caniôns mágicos. Ricardo mostrou-se um anfitrião pra ninguém botar defeito. Resultado: encerrei com os amigos o aluguel da casa em Conceição, passei a ficar hospedada na pousada (afinal, não precisaria subir com a mochila de mantimentos) e fiz uma grande amizade.
No domingo, agradeci a hospitalidade e segui de volta pra casa. Mas, desta vez, resolvi que não voltaria pelo asfalto (BR-267). De Conceição à Lima Duarte isso não seria problema. Dali, segui por estradinhas de chão até Manejo. Infelizmente tive que voltar ao asfalto porque havia caído a ponte que ligava à próxima cidade. Portanto, foram 19 km de asfalto até a entrada de Orvalho, onde está a seguinte placa: “Mercado Pirapetinga – 10 km”.
Bom, como há uma cidade próxima à Juiz de Fora com esse nome resolvi arriscar. Alguns quilômetros depois encontrei uma casa, em frente a um ponto de ônibus, onde havia uma moça para qual eu perguntei: “Moça, Juiz de Fora é pra cá?”. “Sim”, ela respondeu. “Mas se você seguir por aqui” – disse, apontando para uma estrada de chão ao lado da casa – vai chegar em Torreões.” (área rural de Juiz de Fora). Beleza! Agradeci e segui em frente.A estrada era linda, gostosa de pedalar. E, como meu anjo da guarda também é ciclista, nas duas bifurcações do caminho havia alguém para me indicar o caminho certo.
Quando já havia pedalado uns 70 km, deparei-me com um visual maravilhoso. Era verão, o sol estava alto, minha água estava acabando e sentei para descansar. Foi quando eu me perguntei o que estava fazendo ali. E senti uma vontade enorme de não sair mais do lugar (mais tarde um amigo me contou que isso era o Mal da montanha – daqui não saio, daqui ninguém me tira). Enfim, como não havia outra coisa a fazer, subi na bike e segui em frente até me deparar com uma placa que indicava, à direita, Santa Bárbara do Monte Verde (um paraíso ecológico) e à esquerda, subindo, mas subindo muito, Torreões. Quando cheguei ao lugarejo, tinha vontade de vomitar (maldito lema: “Eu não empurro bicicleta”). Recuperada as forças, segui por um mais um bom tempo por estradas de chão. Voltei ao asfalto até encontrar a BR-040 e dali até em casa.
Fiz o percurso em 8 horas. E quando publiquei o depoimento da viagem na lista da internet, é óbvio que apareceram alguns malucos querendo fazer a mesma coisa. Mas essa é uma história que eu vou contar na próxima terça-feira. Boa semana!!Aventuras e Desventuras em Ibitipoca

Primeira Parada: Estação Andorinhas

Houve um tempo em que meu fim de semana começava na quarta. Quando passava pela secretaria do colégio, não era sem uma ponta de ironia que eu dizia “até segunda, meninas”. Nessa época eu dividia com um amigo e uma amiga um chalé em Conceição de Ibitipoca, cidade adjacente ao Parque Estadual que leva o mesmo nome.

Às quintas-feiras, eu acordava às cinco e seguia de bike para a rodoviária, onde embarcava no ônibus das seis para Lima Duarte. De lá subia os 27 km de serra até Conceição. No domingo, voltava pedalando, perfazendo um total de 115 km (praticamente todo pelo asfalto) em mais ou menos 6 horas.
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No dia em que decidi também subir de bike, descobri ao acordar o pneu da frente furado. Fiz os reparos e… cadê a bomba? Desci, empurrando, até um posto de gasolina; lá descobri que o mesmo havia acontecido com o pneu traseiro. Fui à loja onde recentemente trocara os aros (a única explicação para os pneus furados e onde provavelmente teria deixado a bomba) e… manutenção pra cá, manutenção pra lá… “Nossa! Tá tarde! Melhor não me arriscar numa estrada movimentada.” Segui para rodoviária.

Um passageiro, ao me ver equipada, perguntou se eu ia pra Ibitipoca; disse que seu nome era Ricardo e era proprietário de uma pousada – Estação Andorinhas –, no km 17, que se eu precisasse de alguma coisa era só passar por lá, e Ana, sua secretária, me daria pronto apoio. Em Lima Duarte, quando nos despedimos ele me convidou pra passar pra conhecer o lugar, no final de semana. Agradeci e segui para o vilarejo, onde passei o resto da tarde deitada na rede, vendo o pôr-do-sol.

Na manhã seguinte, percorri a pé os 3 km que separam Conceição do Parque, onde havia no máximo umas 10 pessoas (era dia de semana e fora de temporada). O circuito de trilhas tem em média 17 km e exige um certo preparo para completá-lo antes do pôr-do-sol (o Parque fecha às 18h). Embora isso não fosse problema pra mim, fiz uma escolha errada naquele dia.

A Cachoeira da Pedra Quadrada leva esse nome em razão de um gigantesco cubo de pedra que inexplicavelmente a natureza colocou ali. Para visitá-la de perto é preciso usar uma trilha alternativa – na verdade esta pedra já fica fora do circuito oficial; portanto, visitá-la, é um risco pessoal. Desci pela trilha e fui até a pedra. De lá, resolvi seguir em frente, em vez de retornar, e sem perceber, estava andando fora dos limites do parque. Como já havia caminhado muito, o percurso mais curto para voltar à trilha oficial era pra cima. Assim, tive que escalar, de botas de trekking, um enorme paredão. Pensei em nada e em tanta coisa ao mesmo tempo. O medo de cair e a necessidade absoluta de não fazer nada errado pra que isso não acontecesse provocaram uma descarga de adrenalina no meu corpo. Acho que essa foi a coisa mais radical que já fiz, principalmente porque não havia nenhum equipamento de segurança e porque eu estava sozinha. Depois dessa, achei melhor voltar pra casa.

Na manhã seguinte, desci de bike logo cedo, pra conhecer a Estação Andorinhas: um lugar aconchegante, com cachoeiras e caniôns mágicos. Ricardo mostrou-se um anfitrião pra ninguém botar defeito. Resultado: encerrei com os amigos o aluguel da casa em Conceição, passei a ficar hospedada na pousada (afinal, não precisaria subir com a mochila de mantimentos) e fiz uma grande amizade.

No domingo, agradeci a hospitalidade e segui de volta pra casa. Mas, desta vez, resolvi que não voltaria pelo asfalto (BR-267). De Conceição à Lima Duarte isso não seria problema. Dali, segui por estradinhas de chão até Manejo. Infelizmente tive que voltar ao asfalto porque havia caído a ponte que ligava à próxima cidade. Portanto, foram 19 km de asfalto até a entrada de Orvalho, onde está a seguinte placa: “Mercado Pirapetinga – 10 km”.

Bom, como há uma cidade próxima à Juiz de Fora com esse nome resolvi arriscar. Alguns quilômetros depois encontrei uma casa, em frente a um ponto de ônibus, onde havia uma moça para qual eu perguntei: “Moça, Juiz de Fora é pra cá?”. “Sim”, ela respondeu. “Mas se você seguir por aqui” – disse, apontando para uma estrada de chão ao lado da casa – vai chegar em Torreões.” (área rural de Juiz de Fora). Beleza! Agradeci e segui em frente.A estrada era linda, gostosa de pedalar. E, como meu anjo da guarda também é ciclista, nas duas bifurcações do caminho havia alguém para me indicar o caminho certo.

Quando já havia pedalado uns 70 km, deparei-me com um visual maravilhoso. Era verão, o sol estava alto, minha água estava acabando e sentei para descansar. Foi quando eu me perguntei o que estava fazendo ali. E senti uma vontade enorme de não sair mais do lugar (mais tarde um amigo me contou que isso era o Mal da montanha – daqui não saio, daqui ninguém me tira). Enfim, como não havia outra coisa a fazer, subi na bike e segui em frente até me deparar com uma placa que indicava, à direita, Santa Bárbara do Monte Verde (um paraíso ecológico) e à esquerda, subindo, mas subindo muito, Torreões. Quando cheguei ao lugarejo, tinha vontade de vomitar (maldito lema: “Eu não empurro bicicleta”). Recuperada as forças, segui por um mais um bom tempo por estradas de chão. Voltei ao asfalto até encontrar a BR-040 e dali até em casa.

Fiz o percurso em 8 horas. E quando publiquei o depoimento da viagem na lista da internet, é óbvio que apareceram alguns malucos querendo fazer a mesma coisa. Mas essa é uma história que eu vou contar na próxima terça-feira. Boa semana!!!

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