Em sete anos de site BioCicleta o Redator Edgardo Jorge está conosco praticamente desde o inicio. E ele é autor do artigo mais visitado e mais comentado ao longo desses anos. “Como Suportar a dor na Clavivula” (22/06/13). Esse artigo chegou a ser selecionado e publicado na Revista Bicicleta.
Os acidentes com ciclistas não são raros. Para alguns as quedas não são mais que um pequeno inconveniente ou parte da aventura na bicicleta.
Esse tipo de ciclistas depois de um acidente levanta, tira a poeira, confere se sua bike teve algum dano e volta a andar como se nada tivesse acontecido (eu mesmo já fiz isso!). Mas existem outros casos onde o ciclista bate no chão e a conseqüência final é um osso quebrado.
Os acidentes não só podem afetar o andar de uma pedalada, como também podem trazer problemas posteriores. Nos últimos 10 anos sofri umas 10 quedas (de filme). Muitas dessas de lado por não destravar o pé, ou quando termina com a bike de cabeça na lama. Refiro-me quando perde-se totalmente o controle, saindo voando pelo ar, bate como bola e termina como pedra longe da bike. Foi em um de esses acidentes que quebrei um osso, especificamente a clavícula.
O tratamento para a fratura de clavícula é algo estranho; na quebra de um braço, os médicos colocam um gesso, ou uma férula para imobilizar; se torce um tornozelo igualmente colocam uma férula; se quebra um dedo, colocam uma tala e indicam gelo.
Mas por sua localização, a clavícula, na parte de cima do peito e muito perto do ombro é praticamente impossível que tenham que dispor de um gesso para imobilizar o peito todo e o ombro; e a operação não é necessária a menos que a clavícula tenha se partido em vários fragmentos ou esteja afetando nervos ou artérias. Pois é, quando você quebra sua clavícula, geralmente vai sair do hospital com alguns calmantes para a dor e advertido de que NÃO pode mover o braço para que solde bem. No mais depende de você. Eu já tive nessa, sei de algumas lições que poderam te ajudar se alguma vez estiver na mesma situação.
Os conselhos são: Muita paciência. Acho fundamental, mas sempre pense na recuperação mental; primeiro o físico e depois muita vontade pra esquecer medos e traumas posteriores que façam tremer pegar a bicicleta ou fazer o de sempre.
PACIENCIA É A MÃE DE TODAS AS VIRTUDES
Tem que encarar que está com um osso quebrado; esse não solda da noite para o dia; e para que fique bom leva tempo (que muitas vezes parece eterno). E a maioria desse tempo tem que ficar quieto, sem movimentar, em posições que as vezes são chatas e incomodam, mas isso é para que solde corretamente.
O primeiro passo é escutar o doutor e o seu corpo; durante as primeiras duas semanas deve tentar ao máximo de não mover o braço (ainda que se durma). Cada movimento que faz, ainda que seja pequeno (como passar um buraco quando está no carro), causa muita dor. Dormir é toda uma aventura, mas o pode complementar com travesseiros como se fosses um rei! Use muitos travesseiros para apoiar o ombro e para não girar… a melhor é a posição “Drácula”; é básica para dormir. Minha técnica foi deitar-me entre travesseiros, e no sofá da sala nas tardes para não mover-me, e acredite: meus dedos da mão esquerda (sou destro) fortaleceram e exercitaram como nunca escrevendo no computador!
Depois de um par de semanas a ficar quieto, sem mover, a maior parte do tempo deitado, vai cair na conta que colocar alguns limites é importante. Quando o osso começa a soldar, em uns 20 dias (3 semanas) começa a sentir-se melhor e ira querer acrescentar suas atividades aos níveis normais. Seguramente se você é uma pessoa hiperativa como eu, e que está acostumado a fazer coisas o dia todo, vai dar-se conta que é uma loucura fazê-lo! Descobri que todo dia o passo planejando, trabalhando, criando, improvisando, quase sem descansar. Mas depois de um acidente, até as coisas mais simples cansam, assim terá que pensar suas atividades com muito cuidado.
Tem que entender que todas as atividades “regulares” tornam-se mais difíceis. Vestir-se pode requer outro par de mãos que ajudem ou vai ter que vestir como um “romano antigo” envolvido num lençol.
Começará a usar sapatos sem cordões, camisas “largas” de botões, porque lembra que sempre leva o braço junto ao peito e bermudas. Dirigir um carro é quase impossível com um braço, só porque não tem mobilidade nem a mesma capacidade de reação e mais com a quantidade de buracos que há nas cidades.
Os primeiros dias cada queda num buraco é uma dor imensa no braço. Use isto como desculpa para caminhar mais (ainda que aprenderá a caminhar sem muito mexer, porque sente que dói até os cabelos). Caminhar vai-te ajudar a manter os músculos, as pernas e o coração em ritmo, e isso significa menos tempo para voltar a pegar condição física quando puder retornar à bicicleta novamente.
Mas há algo importantíssimo que não pode deixar de fazer (e que eu não fiz, o qual atrasou mais minha recuperação) tome o tempo necessário para ir a terapia de recuperação muscular. Talvez fazer esse tipo de exercitação pode parecer muito, mas se não faz fisioterapia o osso poderá calcificar incorretamente e se chega a ocorrer uma fratura no mesmo lugar, a recuperação vai ser ainda mais lenta, se alguma vez acontece de novo (Lance Amstrong fraturou-se em sua vida de ciclista umas 7 vezes a clavícula, e os acidentes não avisam).
Eu tentei de manter-me ativo, (ainda acho que as vezes mais do que o necessário), de alguma maneira com a cabeça longe de bobeiras e isso foi muito positivo. Na realidade, as 4 primeiras semanas deve-se ter muito cuidado porque são as críticas e a terapia hoje é básica nessas fraturas.
AO FINAL… EM FRENTE!!!!, TEM QUE REGRESAR À BICICICLETA
O passo final é voltar a bike… pegar de novo a fiel parceira. Uma vez que está pronto para sair de novo aos caminhos, tem que se assegurar que a primeira vez, seja numa saida curta e simples. Minha experiência foi que depois de quase 10 semanas e com licença do doutor, fiz uma rodada por perto de 45 minutos, por pavimento em bom estado, porque tinha medo de ter dores posteriores, mas na realidade nunca passou; isso foi um bom sinal!
Depois, aos poucos fui tomando mais confiança e não corri risco nenhum por excessos. Mesmo assim, saídas curtas e limitadas também significam muito tempo sem a bike. Use esse tempo que está sem a bicicleta para fazer algum trabalho de recuperação física, e também pode trabalhar um pouco na bicicleta (que seguramente ficou em “qualidade de lixo” depois da batida). Também pode usar este tempo para tirar todos os fantasmas que ficam depois dum acidente, porque na verdade, em geral pode-se perder a confiança e vai necessitar muita paciência para tê-la de novo. Assim o tempo vai passar, e aos poucos você acrescentará a vontade de voltar à bici.
Quando achei que eu já estava ao 100% encarei à trilha mais dura que pude, para demonstrar a mim mesmo que era capaz de dirigir novamente, por suposto esse dia, ia com todo o medo do mundo; a falta de confiança traduzia-se em falta de habilidade e isso começou a molestar-me, obrigando-me a voltar a ter a destreza que tinha antes. Depois desse dia, minha confiança voltou e agora estou novamente rodando tanto quanto posso, em todo nível e em realidade, a diversão é maior que antes, mas acho que agora normalmente pedalo mais concentrado no caminho que antes.
SEMPRE AGRADEÇA A TODA AS PESSOAS QUE AJUDAM E ANIMAM
É muita, muita a gente que vai-se preocupar com você, farão visitas, perguntas (não gostei disso), mas acontece. Seguramente haverá pessoas que estarão ali, e algumas mais estarão sempre com perguntas sobre a recuperação, mas em especial haverá muita gente que vai-te ajudar a todo momento, e que seguramente, terá que agüentar seu mau humor pela dor, a crise existencial por não poder-se nem mover! E mesmo que saiba do incomodo, ajudarão a vestir, comer, ou bem vão te deslocar onde você precisar, ou ainda mais, com as compras e coisas que não pode fazer por só ter uma mão quieta. Essas pessoas merecem agradecimento, elas são muito valiosas em sua vida.
O melhor conselho que posso lhe dar nesta situação ou com lesão qualquer é: MANTER A MENTE EM POSITIVO. Deverá ser criativo, use seu tempo em criar; pensar coisas pra manter ocupada a cabeça. Os ossos quebrados vão-se sanar, mas nunca permita que os acidentes destruam seu espírito… um ciclista é uma pessoa anormal, sempre volta e se supera!
NOME: Edgardo Jorge Sanrame
CIDADE: Córdoba – Argentina
PROFISSÃO: Consultor de Sistemas, Desenhista de peças de aço
CONTATO: ejsanrame@gmail.com
ESCREVE SOBRE: Bicicleta e suas variantes
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